O que é?
Os antigos egípcios já a conheciam há mais de três mil anos. Os gregos, ao estudá-la, atribuíram indevidamente a culpa ao fígado.
Porém, hoje os especialistas sabem que a enxaqueca é uma das quase 300 dores de cabeça classificadas pela medicina. Entre todas elas, esta, talvez, seja a mais conhecida não só por sua intensidade, mas também por apresentar sintomas bem típicos.
Diferente de outras cefaléias, sua dor é pulsátil (como se o coração estivesse batendo no local), unilateral (varia de lado, de crise para crise) e atinge as regiões frontal e temporal. A enxaqueca atinge mais mulheres (18%) do que os homens (6%).
Quem sofre?
Seu pico de incidência acontece entre 20 e 45 anos, embora, em menor proporção as crianças também sejam atingidas por dores de cabeça que devem ser investigadas e tratadas: "Estudos mostram que, até seis anos de idade, 39% das crianças já sabem o que é ter dor de cabeça. Entre os adolescentes até 15 anos, 70% deles relatara, episódios de cefaléias. Algumas podem ser diagnosticadas como enxaquecas.
Portanto, é preciso ficar atento às queixas das crianças e dos jovens", alerta Célia Roesler, neurologista e coordenadora do departamento científico de cefaléia da Academia Brasileira de Neurologia.
Diferentes sintomas
Em uma crise, em geral, a dor começa fraca e se torna cada vez mais intesa. Seu período de duração varia entre 4 e 72 horas. Somam-se à dor insuportável outros sintomas como náuseas e/ou vômitos, intolerância à luz (fotofobia), intolerância a barulhos (fonofobia) e tonturas.
Durante um ataque, podem ocorrer dificuldade de concentração, sensação de cansaço e mal-estar. Nos homens, a dor mais comum é a cefaléia em salvas. Diferente da enxaqueca propriamente dita, a dor costuma chegar subitamente de madrugada, atingindo um só lado da cabeça, na fronte ou ao redor do olho.
É tão intensa que pacientes relatam a sensação de que sentem algo perfurando o olho.
Como a crise chega
A enxaqueca, também conhecida como migrânea, acontece por causa de uma disfunção química cerebral de origem genética. Veja como surge a dor: o ataque de enxaqueca parece provocar uma mudança na sensibilidade dos vasos sanguíneos da cabeça. No início, com a liberação de uma substância conhecida como noradrenalina, alguns vasos que irrigam o cérebro se contraem, provocando diminuição da irrigação cerebral. Esse fato faz surgir sinais como visão embaralhada e dormência em algumas crises.
Na medida em que a constrição desaparece, as artérias extracranianas se dilatam e o paciente sente uma dor latejante (pulsátil) que afeta um ou outro lado da cabeça. Vale lembrar que esse desarranjo tem fortes componentes genéticos: entre os pacientes que sofrem enxaqueca, 75% relatam pelo menos uma pessoa da família com o mesmo problema.
Causas frequentes na alimentação
Um grande estresse físico ou emocional, sono demais ou de menos, mudanças bruscas de temperatura, álcool, perfume, jejum ou dieta rigorosa e períodos menstruais são alguns dos fatores, conhecidos como gatilhos, que podem desencadear uma crise. Entretanto, vários alimentos também podem ser a causa da dor. Os maiores vilões dessa história são: chocolates, embutidos, queijos amarelos, molhos vermelhos, frutas cítricas, glutamato monossódico, aspartame e bebidas alcoólicas, especialmente o vinho tinto. No entanto, a sensibilidade a esse ou àquele alimento varia de paciente para paciente: "Daí, a importância de se observar - inclusive anotar em um diário - tudo o que ocorre antes e durante uma crise para ser relatado ao médico. Uma simples observação pode ser a chave do sucesso para um tratamento correto", avisa Célia.
Tratamentos eficazes
O tratamento vai depender da história clínica do paciente, da frequencia, intensidade e duração das crises. Entretanto, o alívio para a dor pode ocorrer de duas maneiras: tratando a crise propriamente dita com medicamentos da família dos triptanos, em forma de tabletes, para semrem colocados embaixo da língua, que agem depois de cinco minutos; ou utilizando o tratamento preventivo, à base de medicamentos que evitam que a crise se instale de vez. Os medicamentos preventivos podem ser antidepressivos, anticonvulsivantes, anti-hipertensivos e para combater labirintite, entre outros. "Essas medicações são recomendadas em doses menores das utilizadas para tratar as doenças", explica Célia.
Antes que ela apareça
Cerca de 15% dos pacientes costumam ser "avisados" quando uma crise se anuncia por meio de um fenômeno neurológico conhecido como aura, manifestada em forma de alterações visuais. Quando aparece a aura, o paciente começa a enxergar manchas escuras ou pontos luminosos em sua frente. "A enxaqueca com aura é assustadora, principalmente na primeira vez que acontece. O paciente pode achar que está sofrendo um acidente vascular cerebral (derrame). Mesmo que já tenha passado por essa experiência, muitas vezes o paciente entra em pânico por medo de perder a visão e não retomá-la após a crise", escreve Célia Roesler, junto com Edgard Raffaelli Jr e R. da Silva Neto, no livro "Dor de cabeça - um guia para entender as dores de cabeça e seus tratamentos" (Prestígio Editorial).
Fonte: revista Viva Saúde, nº62. Célia Roesler, especialista em cefaliatria, membro titular da Academia Brasileira de Neurologia e das Sociedades Brasileira e Internacional de Cefaléia e diretora da Clínica de Cefaléia e Neurologia Dr. Edgard Raffaelli (SP)